segunda-feira, maio 08, 2017

Soneto imperfeito da caminhada perfeita



Sidónio Muralha (1920-1982) por Fernando Lemos



Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar
Ninguém teme as mordaças ou algemas

- o braço que bater há-de cansar
e os Poetas são os próprios versos dos poemas.

Versos brandos... Ninguém mos peça agora.

- Eu já não me pertenço: sou da Hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas
.

Sidónio Muralha, in Passagem de Nível, «Novo Cancioneiro», Coimbra, 1942, pp.22-23

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