Onde estão as amazonas
as feiticeiras perdidas
Deana no ardor da caça?
Dentro de si dividida
As lobas nos seus covis
as raposas sorrateiras
as gazelas as leoas
Na vigilância matreira
Contra o silêncio da selva
ou a queixa sofredora
o sangue, a seita, ou a seiva
No trajecto da cerviz
Onde estão as guerrilheiras
as sílfides no voo fechado
Théroigne de Méricour?
De punhal embainhado
A querer desdobrar a Luz
da revolução o começo
com o seu passo alado
E o seu desassossego
Entre o sonho e a voz alva
tão forte e destemida
que é calada sem apreço
Entre a quimera e o esteio
Onde estão as poetisas
bravias em devaneio
pelo avesso da rima
Onde se entorna o poema?
Dançando no fio das letras
no gume da faca ou sino
a preverem o futuro
E a tecerem o destino
Buscando no veio dos versos
os recessos e os limites
os lumes e as lianas
E no desejo arbitrário
A mulher a querer ser chama
em busca do feminino
no masculino contrário
M Teresa Horta
(inédito)
2 comentários:
porque os outros se mascaram
mas tu não...
Os poemas da Tereza Horta acompanham-me desde sempre. No amor, na liberdade, na rebeldia, no dizer não, no dizer sim. Com eles, fiz-me Senhora de Mim à-flor-da-pele muito antes de ser capaz de encher de sentidos a palavra feminismo.
Enviar um comentário