terça-feira, março 10, 2009

Poesia Reunida de M Teresa Horta


Foi
hoje
às 18,30
na
Casa
Fernando
Pessoa


Foi pelo final da tarde de hoje que nos encontrámos todos/as na «casa do poeta» (que a Inês, outra mulher de excelência dirige) para estarmos com a Teresa e a sua poesia, agora reunida e editada num único volume de 850 páginas, pela Dom Quixote, com prefácio de Maria João Reynaud e apresentada por Fernando J.B. Martinho.
Casa a abarrotar de amigos/as e admiradores/as da poetisa (um termo que muitos não gostam vá lá saber-se porquê) mas onde predominavam as mulheres que sabem bem o quanto devem à autora e à sua obra.
Maria Teresa Horta começou a publicar em 1960 e a sua poesia foi, desde sempre, como muitos testemunharam hoje, um «facho a arder» na vida de muitas mulheres portuguesas. Ela foi a voz das vozes silenciadas que não podiam, ou não sabiam, como gritar a revolta asfixiada e a sexualidade reprimida. Foi a arauta de uma revolução sexual feminina que tardava a chegar a este país pardacento.
Hoje ouvimos falar da originalidade da sua poesia, do seu erotismo e feminismo assumidos e nunca traídos, mas também do seu pioneirismo como dirigente cineclubista e até jornalistica, tendo desenvolvido um trabalho de extrema importância em a página cultural de A Capital, como bem salientou Fernando J. B. Martinho.
Ouvimos por fim alguns poemas ditos por si. Sempre precisos, essenciais. Tecidos pela palavra burilada e sensível da Teresa.
Poesia Reunida, como a autora defende, é um testemunho da sua vida para os outros. Uma dávida generosa cobrindo uma lacuna há muito sentida. Os seus livros encontram-se esgotados. As novas gerações precisam ler e conhecer Maria Teresa Horta. A sua poesia é necessária. Ainda e sempre.
Parabéns à Dom Quixote.
Obrigada, Teresa.

segunda-feira, março 09, 2009

Amazonas





(Sem Título,
de
Fernando
José
Francisco)






Onde estão as amazonas
as feiticeiras perdidas
Deana no ardor da caça?

Dentro de si dividida

As lobas nos seus covis
as raposas sorrateiras
as gazelas as leoas

Na vigilância matreira

Contra o silêncio da selva
ou a queixa sofredora
o sangue, a seita, ou a seiva

No trajecto da cerviz

Onde estão as guerrilheiras
as sílfides no voo fechado
Théroigne de Méricour?

De punhal embainhado

A querer desdobrar a Luz
da revolução o começo
com o seu passo alado

E o seu desassossego

Entre o sonho e a voz alva
tão forte e destemida
que é calada sem apreço

Entre a quimera e o esteio

Onde estão as poetisas
bravias em devaneio
pelo avesso da rima

Onde se entorna o poema?

Dançando no fio das letras
no gume da faca ou sino
a preverem o futuro

E a tecerem o destino

Buscando no veio dos versos
os recessos e os limites
os lumes e as lianas

E no desejo arbitrário

A mulher a querer ser chama
em busca do feminino
no masculino contrário



M Teresa Horta

(inédito)

domingo, março 08, 2009

Albina Fernandes e todas as Mulheres

(Soissous, 5.1.1928 - Lisboa, 5.10.1970)
«são as mulheres como tu / que podem transformar o mundo» Joaquim Pessoa

Presa em 15.12.1961 com o companheiro Octávio Pato, recolheu à cadeia de Caxias com os pequeninos Isabel e Rui, tendo desencadeado uma luta com os agentes da Pide para que as crianças fossem entregues, na sua presença, aos avós paternos. Ameaçada de lhe tirarem os filhos para serem entregues numa instituição, dado os pais não serem casados e os registos estarem irregulares devido à situação de clandestinidade que viviam, Albina Fernandes deitava as crianças na única cama da cela enquanto se estendia no chão frio, sem qualquer agasalho, segurando nas suas as mãos dos meninos. Só a 10.1.1962 lhe foi autorizada a entrega das crianças aos avós.
A foto testemunha o insólito de uma presa política que, mesmo para a fotografia da praxe, recusa largar o seu bébé.
Albina e Octávio viriam a casar na cadeia em 1963. Saida em liberdade condicional em 1969, veria a pena do companheiro ser indefinidamente prorrogada. E o seu sistema nervoso, extremamente debilitado por oito anos de prisão e muitos mais de clandestinidade não resistiu à angústia de uma vida constantemente adiada. Simbolicamente ou não, enforcou-se no dia 5 de Outubro de 1970.
Neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, a minha homenagem a todas as Mulheres do meu país, sobretudo àquelas que, como Albina Fernandes, foram injustamente ficando pelo caminho, não chegando a viver os alvores da Liberdade por que tanto lutaram.



quarta-feira, março 04, 2009

Crianças abusadas: realidade que vem de longe


Foto de D. Sharon Pruitt


8 de Setembro [1911]

Um médico conta-me hoje este facto horrível: quase todas as crianças pobres, de dez anos para cima, que dão entrada nos hospitais ou hospícios de Lisboa, vão desfloradas.

Raúl Brandão, Memórias, vol. II, p.126