segunda-feira, janeiro 25, 2010

Antonio Lopes de Almeida: a coragem e o medo

Antonio Lopes de Almeida, Maria da Piedade (mulher) e Suzete (filha)


No início do ano passado homenageei aqui António Lopes de Almeida, assassinado pela PIDE, no Aljube, em 1949. Na altura baseei-me nos arquivos da PIDE/DGS e nos jornais da época. Só mais tarde tomei conhecimento de um livro de 2008, - Mulheres da Marinha Grande, histórias de luta e de coragem -, da autoria de Júlia Guarda Ribeiro, com uma excelente recolha de testemunhos, entre os quais o de Maria da Piedade Almeida, viúva daquele malogrado operário vidreiro da Marinha Grande.
É esse testemunho que vos deixo aqui, nos 61 anos da morte de António Lopes de Almeida.



É com lágrimas na voz, pois as lágrimas dos olhos já secaram há muitos anos, que Maria da Piedade Almeida fala do dia 16 de Janeiro de 1949.

- O meu marido foi preso nesse dia. Era um Domingo, de manhã. Ele ainda estava a dormir, porque nessa noite tocara no grupo “Os Pinantes” até de madrugada. É que o meu António, para além de bom operário vidreiro, era um grande músico. Aos 14 anos já tocava clarinete. Depois aprendeu a tocar saxofone, trompete, trombone de varas e acordeão. Tocava muito bem. E compunha.Na banda era o único que escrevia músicas. A “Marcha dos Pinantes” , que ele compôs , foi muito aplaudida. E tantas outras músicas... Os olhos de Maria da Piedade ainda brilham com o amor dos 20 anos, quando fala do seu Toni.
- Era um grande músico e um grande homem. Não imaginam o prazer que tinha em ensinar os miúdos a ler. Porque eram ainda muito miúdos quando começavam a trabalhar no vidro. Alguns nem tinham tempo para ir à escola.

-Mas estava eu a falar do dia em que o meu António foi preso.
Ouvi bater à porta, fui abrir e lá estavam dois homens desconhecidos que me perguntaram: “É aqui que mora o Sr. António Lopes de Almeida?”
Pela má catadura deles, percebi logo que eram pides e até um calafrio me subiu pela espinha. A custo, perguntei: “Que lhe querem?” . “Não é da sua conta. Vá chamá-lo, que temos pressa”.
Fui acordá-lo e ele, ainda ensonado, veio à porta.
“Apronte-se, que tem de nos acompanhar à esquadra?” . “À esquadra? Para quê?” . “Precisamos de ter uma longa conversa”. “Tenho de me lavar, barbear e…” “Vá, rápido. Não temos o dia todo”

-Eu tinha o coração mais apertado que um nó cego. Fui ver a menina. Ainda dormia naquela paz e doçura que só uma criança tem enquanto dorme. Dei-lhe um beijo e as lágrimas correram-me desatadas. Foi aí que o meu medo começou. Medo pelo que se estava a passar e medo pelo que poderia vir a acontecer. Mas estava longe de adivinhar todo o horror que se passou. Saí do quartinho da minha filha e fui ter com o meu marido. Tentei aparentar coragem, mas o pavor crescia dentro de mim. Pôs-me o braço sobre os ombros, como se me quisesse dar forças e disse baixinho:”Não vai ser nada. É tempo de eleições e a pide quer meter medo às pessoas. Amanhã estou de volta, vais ver”.

A menina acordou entretanto e veio ter connosco. O pai pegou-a ao colo e voltámos os três à salinha onde os pides esperavam.Um deles disse-lhe: “Olhe, diga à patroa que lhe leve o almoço, que isto vai durar”. Foi assim, como se eu não estivesse presente, como se eu não contasse para nada.
E levaram-no. A menina, com 5 anitos, assistiu à prisão do pai e também nos seus olhos se espelhava o medo. Perguntou: “Para onde vai o pai’” “Teve de sair”. “Para onde foi?” “Foi com uns senhores, mas não demora.” “Foi com uns senhores, mas não demora”. Daí a minutos perguntava outra vez: “Quando vem o pai?” “Olha, minha querida, vamos fazer o almoço e levamos-lho, está bem?”
E levei-lhe o almoço ao quartel da GNR, junto do Mercado Velho, a Resinagem. Ele então pediu-me :”Traz-me roupas, Piedade. Vão levar-me para Lisboa, para interrogatório”. Fiquei sem fala. O pavor parece que se tornou uma vaga enorme que me estava a submergir. Custava-me a respirar. De boca aberta, parecia um peixe fora da água. “Vamos no comboio da tarde, Piedade. Vá, calma, não há-de ser nada. Eu não fiz nada. São umas perguntas para amedrontar ”. Lá consegui respirar e vim para casa, porque não queria que ele me visse chorar mais. Preparei uma maleta e aprontei a minha Suzete para nos irmos despedir dele à estação. A menina, ainda tão pequenina, mas parecia que percebia o que se estava a passar. Muito abraçada ao pai, a chorar, não o queria largar. Era de cortar o coração. E eu, ao abraçá-lo, disse-lhe ao ouvido “Oh, Toni, eles vão fazer-te mal. Vão torturar-te, mas tem coragem. Não dês o nome de ninguém”. E ele respondeu ao meu ouvido: “Tu conheces-me, Piedade. Sabes que eu nunca seria capaz de trair um amigo ou um camarada”.

- Depois arrependi-me muitas vezes de lhe ter dito tal coisa. E pensava cá para comigo : “ Quem sabe se ele tivesse dado um nome ou dois, daqueles que até já tinham sido presos, ele e os outros não seriam soltos mais dia menos dia?”
Mas também sei que mesmo que eu não lhe tivesse dito nada, o meu António não denunciaria ninguém.

Porém, ele... ele foi denunciado... Havia sempre bufos, mesmo onde não era de esperar.
Fez uma longa pausa, pois a ferida antiga fora reaberta. Perpassa funda amargura nas palavras que profere.
- Se houver contas a ajustar... Olhe, já lá estão os dois.

E continuou com voz mais sumida:
- O que o meu marido sofreu! Esteve 48 horas seguidas de estátua. Se escorregava para o chão, era logo “Levanta-te, cabrão” e pontapés por onde calhava: nas costas, na barriga, nos testículos. Se fechava os olhos de exaustão, eram pontapés na cara e na cabeça. Partiram-lhe o nariz, os óculos, escorria sangue por todo o lado. (Soubemos destas coisas por outros presos e porque o homem da funerária contou como estava o corpo: todo pisado. Todo ele era uma nódoa roxa. Disse que mais parecia o pano da Paixão.) . Tudo isto se passou na António Maria Cardoso e no Aljube. A prisão, a tortura e a morte : tudo isto em 3 dias ou 4.

Todavia há orgulho na voz sofrida desta mulher de 92 anos quando afirma:
- Mas nunca denunciou ninguém!

Regressa à sua memória e os seus olhos mostram que a lembrança lhe dói profundamente.
Quanto sofreste, meu Toni. Quanto eu sofri, nesses dias e em todos os outros dias da minha vida. Sentindo sempre aquele medo imenso, que me gelava o sangue. Não conseguia dormir e se caía no sono, tinha pesadelos infernais. Acordava aos gritos. Punha uma almofada na boca e mordia-a com força para não acordar a minha filhinha. De manhã tinha de tratar dela, sem choro nem lágrimas. E a menina continuava a perguntar: “Quando vem o pai?” “Não tarda aí, meu amor”. Que difícil compor um sorriso quando o coração geme e sangra. “Quero o pai”. E eu tinha de me virar de costas para ela não me ver chorar.

- Quando o meu marido foi torturado, estava no Aljube um estudante de Coimbra, preso nas lides da campanha de Norton de Matos. No corredor passavam um pelo outro. O meu António, com o rosto todo maltratado, os olhos muito negros e inchados, segredou-lhe: “Estive dois dias de estátua. Não me arrancaram nada nem arrancarão”. Na volta seguinte mais umas palavras: “Sou Lopes de Almeida, Marinha Grande. Estão a matar-me de pancada”. O estudante foi solto daí a um ou dois dias e viu a notícia da morte de António Lopes de Almeida, que se enforcara no Aljube. Mas não dizia que era da Marinha Grande. Cheio de fúria, correu ao jornal “República”, explicou tudo o que viu, e então a notícia saiu correcta.

- Mas como podia ele ter-se enforcado, se não tinha corda, nem cinto, nem atacadores dos sapatos. Realmente, segundo me contaram os meus primos Bajancas (isto é uma alcunha, que o apelido deles é Neto, e foi a eles que eu pedi que arranjassem uma funerária para tratar do corpo e do funeral), o meu marido tinha um vergão roxo à volta do pescoço. Mas a pide é que o dependurou já morto ou moribundo, para fazer crer que ele se tinha enforcado. Aliás, isso era prática muito frequente na pide.

Nesse mesmo dia, ao fim da tarde, os meus primos levaram-me à funerária, mas o caixão já não se encontrava lá. O proprietário contou-me que, ao preparar o corpo, um dos empregados havia encontrado num bolso do pijama um papelinho escrito com sangue “Avisem minha mulher, Mª Grande”. “ Dê-me esse papelinho, por favor”. “Não o temos. A pide veio cá hoje mesmo buscá-lo”. “Mas como é que a pide soube?” “Minha senhora, a pide tem olhos e ouvidos em todo o lado. Até na casa dos mortos”.

- Eu percebi então que o meu António, à beira da morte, teve medo que a pide destruísse o seu corpo.

- Um agente da pide, de nome Fernando Gouveia, muito chegado a uma vizinha da minha cunhada Maria João, falou um dia sobre a tortura e morte do meu marido e disse: “O António Lopes de Almeida era um Homem. Um vidreiro, mas não um operário comum. Muito culto. Só que nunca quis dizer a verdade. A culpa foi dele. Porque é que nunca disse o que devia? Portanto, ele é que se enforcou”.

-Repare que todas estas coisas se foram sabendo com o tempo. Desculpe contar assim, sem jeito nenhum. Vou voltar atrás, ao Domingo seguinte à prisão. Era dia 23 de Janeiro e o grupo “Os Pinantes” estava a tocar num baile na Nazaré, quando alguém chegou com o jornal “República” e disse: “Mataram o António Lopes de Almeida”. Eram 4 horas da manhã quando ouvi duas pancadas na janela do meu quarto. O meu coração parou. Senti uma dor... sei lá … a dor da morte. Sabia, tinha a certeza, que o meu António morrera antes mesmo de ouvir dizer “Não tenha medo, Piedade. Sou eu, o Mário”. Era o Mário Macatrão. Abri a janela. “Venho dizer-lhe o que se passou com o seu marido”. Contou-me o que o meu coração já tinha adivinhado.
De manhã, fui chamada à Câmara e o Presidente disse-me: “Vá já para Lisboa tratar de assuntos referentes ao seu marido”. Eu já estava vestida de luto.

Avisei os meus primos e fui logo para Lisboa. Dirigi-me à António Maria Cardoso, pois era lá, pensava eu, que deveria reclamar o corpo, a fim de lhe dar um funeral digno na Marinha Grande. Veio um pide e, com falinha mansa, disse-me: “O corpo não pode ser entregue já. Só daqui a três meses é que o pode levar”. Pensei que enlouquecia. Desatei a gritar: “Quero o corpo do meu marido. Que lhe fizeram? Que lhe fizeram depois de o matar?”. “Ouça, não grite. O seu marido terá um funeral. O Governo Civil está a tratar disso”. Empurraram-me. Obrigaram-me a sair. Já no meio da rua continuei a gritar “Assassinos! Assassinos! Mataram o meu marido. Já que não mo dão vivo, dêem-mo morto”. O pide que me agarrara por um braço, ameaçou : “Cale-se, mulher, se não o corpo ainda vai parar à vala comum e você nunca mais saberá dele”. Eu não consegui parar de gritar. Foi o único momento em que não tive medo, talvez porque devo ter pensado que já não tinha mais nada a perder. Os meus gritos fizeram assomar muitos rostos assustados às janelas apenas entreabertas. “Assassinos! Assassinos!” . Gritei até a voz me doer. Gritei para lá da dor. Ali fiquei derrubada , no meu desespero e no meu soluço.

Quando consegui pensar, percebi que o que a pide queria era deixar passar o tempo, para que o caso caísse no esquecimento, porque era período de eleições e para que as marcas da tortura desaparecessem.

- O corpo de meu António ficou no gavetão nº 59 no cemitério de Benfica. Mais tarde soubemos que esse gavetão fora pago pelo Governo civil de Lisboa não por 3 meses, mas por 50 anos.E assim teria acontecido, se não fosse o 25 de Abril.

Quando íamos ao cemitério de Benfica pôr flores, por vezes interrogava-me se a pide não teria ido lá retirar o corpo. Até esse medo eu tive.
Um coveiro chegou a dizer-nos: “Preparem tudo na Marinha Grande e venham cá uma noite e levam o caixão.” Mas, obviamente, isso não se podia fazer assim.

Na Marinha Grande, logo que se soube da morte do meu marido, as fábricas pararam, os trabalhadores vieram para a rua e, em frente do Sindicato dos Vidreiros e no Largo da Câmara gritavam em altas vozes: “Queremos o Homem” “Queremos o Homem”. Foi um pide que chegou à varanda e disse: “Calma, que o Homem vem”. E veio. Mas passados 30 anos.
Mas já estou outra vez a adiantar-me aos acontecimentos.
Mais uma pausa no relato. Mais um reavivar da dor.

-Vou tentar retomar o fio da meada. O meu António não sobreviveu à tortura. Eu nem sei como sobrevivi a tanta dor, porque sofrer na alma é sofrer mil mortes. O que me prendeu à vida foi a minha filha, que eu, tão cedo viúva, ia ter de criar sozinha. Por isso, havia que secar as lágrimas eenfrentar a dura realidade. A morte do meu António não podia ter sido em vão. Tudo o que eu sentia: desespero, raiva, angústia, uniam-se num sentimento que me tolhia: o medo. Eu era vigiada. Fui vigiada anos e anos. E o medo entranha-se em nós até ao tutano. Tinha medo que me destruíssem também e eu tinha de viver e trabalhar para a minha filha.

- Quando havia qualquer movimento dos trabalhadores, para pedir aumento, ou melhores condições de trabalho, toda a gente, colegas e dirigentes sindicais me recomendavam que eu não me mostrasse, não saísse da fábrica, pois estava muito marcada. Na verdade, estava marcada pelo medo na alma e no coração. Mas aprendi que o medo também nos pode dar coragem. Coragem e força para lutar pelo que é nosso, pela nossa família, pelos nossos direitos.

- Já contei que trabalhava numa fábrica, na “Catita e Barros”, mas não disse o que fazia. Fui empalhadeira quase 20 anos. Era um trabalho muito duro. As costas ficavam derreadas e, a certa altura, comecei a ter dores muito fortes na barriga. Já quase nem podia encostar nela o garrafão, porque as dores se tornavam insuportáveis. Fui operada a um tumor e reformada por invalidez com 170 escudos mensais. Foi em 1961. Claro que isto não dava para viver e eu trabalhava em casa, empalhando coisas pequenas como garrafõezinhos e cantis-miniatura que a Elisa Bizarro vendia em Fátima. Era um trabalho menos duro, mas que exigia arte e paciência, porque a empalhação tinha de ficar como uma renda.

- No meio de tanta desgraça gostaria de dizer uma coisa muito linda sobre um patrão que tive e que era a excepção à regra: o Dr. Artur Barros. Grande amigo do meu marido, tinha pena de mim e da minha filha. Um dia perguntou-me: “Então a miúda vai bem nos estudos?”. “Vai, sim. Fez a 4ª classe e agora vai trabalhar”. “Trabalhar? Tão pequenina? Seria o que o pai queria?” . “ Não, não era. Mas o que eu ganho não dá para mais estudos” . “Escuta o que te digo, Piedade. Olha que sem estudos não se vai a lado nenhum”. “Sei que o senhor tem razão, mas…” “Eu tomo a meu cargo os estudos da pequena”. Foi assim que a minha Suzete continuou a estudar. E foi assim que pôde arranjar um emprego melhor do que ser empalhadeira.

- Hoje ajudo a minha filha a criar os filhos: os meus netos que, felizmente, não tiveram de viver num regime de opressão e de medo.

- Para terminar, só vou falar de um dos momentos mais importantes da minha vida: a trasladação dos restos mortais do meu marido para a terra que era a sua e que ele tanto amava.
Claro que teve de se dar o 25 de Abril. Teve de chegar a liberdade, tão duramente conquistada por mulheres e homens corajosos. A liberdade pela qual alguns, como o meu António, sacrificaram a própria vida.
Após 30 anos teve o funeral que lhe era devido. Foi no dia 13 de Março de 1979 que os seus restos mortais desceram à campa nº 1648, no cemitério da sua querida vila. Os trabalhadores da Marinha Grande, em peso, estavam lá.
Após 30 anos o Homem regressou, finalmente, à sua terra.


Maria da Piedade Almeida, in Júlia Guarda Ribeiro, Mulheres da Marinha Grande - histórias de luta e de coragem, Folheto Edições & Design, Leiria, 2008, pg. 39-53

quinta-feira, janeiro 21, 2010

No bicentenário de Chopin (1810-2010)




CHOPIN, 1831

Estás em Viena, inclinado sobre a primavera
com dedos brandos a tactear saudades. Folheias
um álbum com recordações de Varsóvia e sabes
que a solidão é uma ave sufocante e implacável,
um ofício que verte nas teclas todo o seu desespero.

Escreves, tu que foste feito para cantar,
breves, sincopadas notas íntimas onde cabe,
totalidade de insónia e fogo, o coração
que teimas em adiar. Que mal existe em estar
saudoso, em sentir que a cidade amada se escapa
pelo vazio dos dedos, a latejar de sofrimento?

É como se enlouquecesses. Notícias chegam
de que a cidade continua a padecer de uma dor
que mora nas casas, nos quartos, nos livros
na alegria contida das mazurkas. 1831, não
crês que seja possível resistir por mais tempo
e é mais um pedaço de ti que morre na clave
de sal de um estudo menor, patriótico até
à profundidade sem música das lágrimas.

Escrever para onde, eu que te amo na carne
trágica de um prelúdio universal? Dou por mim
a cantar-te em timbre de carta sem remetente,
sem endereço, sem data possível. Separa-nos,
impiedoso, um tempo na tortura das lembranças
esquecidas a um canto do piano neste quarto.

Falavas de nostalgias e inquietação e eu não sei
de outras palavras que melhor pudessem dizer
a substância de cinza e ouro de que a tua música
é feita. Queres voltar pela vertente mais agreste,
pelo caminho de treva que a lugar algum conduz
e eu estou à tua espera no arco nocturno
da cidade amada para te dizer que ninguém
é estrangeiro quando tu tocas, que ninguém
de si mesmo se divide no círculo de âmbar
do teu mágico, lírico, desesperado canto.


José Jorge Letria in Carta de Afectos, Livros Horizonte, 1989