terça-feira, abril 24, 2018

25 de Abril com Sophia e Manuel San Payo

25 de Abril, por Manuel San Payo




Sempre adorei este poema da Sophia e este desenho do Manuel. Nos 44 anos do 25 de Abril decidi juntá-los. Porque ambos falam de valores essenciais: Verdade e Liberdade. Ficam muito bem juntos. 


NESTA HORA

Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade


Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida


O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe


A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados


Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar


Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
— Sob o ausente olhar silente de atenção


Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste


Sophia de Mello Breyner, O Nome das Coisas, 1974

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