Pelas 8:15h do dia 6 de Agosto de 1945, Hiroshima foi arrasada pela primeira bomba atómica lançada pelos Estados Unidos. Paul Tibbets que comandava o B-29, "Enola Gay" (nome de sua mãe) fê-la detonar a 576m acima da cidade, prvocando um clarão que logo se transformou num gigantesco cogumelo de 9.000 m de altura provocando ventos de 640 a 970 km/h eque espalharam material radioativo numa espessa nuvem de poeira. A explosão provocou um calor de cerca de 5,5 milhões de graus centígrados, similar à temperatura do Sol. Foi até hoje a arma que mais mortes provocou num curto espaço de tempo; 221.893 mortos é o total das vítimas reconhecidas oficialmente. Num raio de 2 km, a partir do centro da explosão, a destruição foi total. A grande maioria das vítimas eram civis que nada tinham a ver com a guerra. Todos os sobreviventes ficaram afectados. Milhares de pessoas foram desintegradas e, na falta de cadáver, as mortes nunca foram confirmadas.
O comandante Paul Tibbets, falecido recentemente, jamais se arrependeu. Verdade seja dita que Truman também não.
Uma série de fotografias inéditas estão agora a ser divulgadas. Foram encontradas por Robert L. Capp, um militar norte-americano, nos arredores da cidade. Capp doou as fotos em 1998 na condição de apenas serem divulgadas em 2008. Caso tenhas nervos de aço, veja aqui toda a série.
Se não conseguirem aceder acima, visitem este site.
Testemunho dos Jovens de Hiroxima é um livro que reune testemunhos de crianças na altura, com prefácio de Bertrand Russel. Deixo-vos com o depoimento de Masayuki Hayashide, um menino que em 1945 andava na 4ª classe.
Quando a guerra redobrava de violência, o meu irmãozinho e eu fomos evacuados para Kaway no distrito de Takada. O meu pai, a minha mãe e a minha irmã mais pequena ficaram em Senda, Hiroshima. Nessa altura o meu irmão tinha seis anos e eu onze. A minha mãe enviou-nos, a mim e ao meu irmãozinho, muitas cartas.
Todas as vezes que eu lia as cartas, o meu irmãozinho perguntava: «In-chan (mano grande), quando voltamos para Hiroshima?» Fazia com tanta frequência esta pergunta que me feria os nervos, e por vezes, repreendia-o. Relembrando isto, compreendo que era uma coisa pouco razoável da minha parte e lamento-o agora. Ele desejava tanto ir para casa que o meu avô por fim cedeu e uma semana antes do lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima ele levou-o aos meus pais. Ao vê-lo partir, invejei-o. Agora, sinto pena de mim mesmo, pois era o irmão mais velho.
Depois disto, no dia 6 de Agosto, no momento em que iam começar as aulas e a campainha tocava para a entrada, um relâmpago e Bum!! ouviu-se um estrondo terrível. As janelas de vidro da escola estilhaçaram com violência e no céu para leste uma nuvem de fumo branco inflamou. Fiquei assustado e escondi-me no abrigo da escola. Momentos depois, como não ouvisse mais ruídos, saímos cuidadosamente de rastos para observar. Começou a dizer-se que fora atacado o aeródromo de Kamine.
Uma manhã bem cedo, quatro ou cinco dias depois, o meu avô arranjou lugar num camião e partiu para Hiroshima. A avó e eu tínhamos acabado de cear e ido para a cama quando ouvimos, já meio adormecidos, bater à porta. Quando a avó abriu o meu avô entrou. Segundo a sua história, Hiroshima estava completamente em ruínas. Quando foi a Senda, encontrou o meu pai apenas com uma beliscadura no braço, mas a mãe tinha o corpo todo queimado, bem como o meu irmão e a minha irmã; mas estes estavam já mortos.
Na manhã seguinte, a avó e eu fomos de autocarro a Kabe e dali partimos a pé para Yokogowa. Quando lá chegámos, não quis acreditar que o que os meus olhos viam fora Hiroshima. Mal conseguíamos perceber onde nos encontrávamos. Por fim, seguindo as linhas dos eléctricos chegámos a Senda. A casa estava totalmente destruída. Uma pessoa que vivera perto de nó aproximou-se e disse-nos onde se refugiara a mãe e dirigimo-nos para o parque de Yamanaka.
A mãe estava completamente prostrada. O seu cabelo caíra quase todo. Tinha o peito em chaga e de um buraco nas costas saiam e entravam vermes. O local encontrava-se cheio de moscas e mosquitos e um odor nauseabundo empestava tudo. Para onde quer que olhasse só via pessoas imóveis. A partir da noite em que chegámos, a mãe piorou e parecia que a víamos enfraquecer diante dos nossos olhos. Como durante toda a noite tivera dificuldade em respirar, fizemos tudo o que pudemos para a aliviar. Na manhã seguinte eu e a minha avó cozinhámos a açorda. Quando a levámos à mãezinha ela soltava o último suspiro. Quando pensámos que deixara de viver, ela respirou profundamente ainda uma vez e não voltou mais a respirar. Eram 9 horas da manhã de 19 de Agosto. No local do Hospital da Cruz Vermelha Japonesa, o odor dos corpos que cremavam era intenso. A dor demasiada fez-me parecer um estranho a mim mesmo, e a despeito da minha dor não consegui chorar. Era como se o meu irmãozinho tivesse vindo para Hiroshima de propósito para morrer. Por que não o retive uma semana mais? A minha pena é maior do que a posso suportar. O meu irmãozinho e a minha irmã já estavam ambos mortos antes de eu voltar.
Depois o meu pai e eu levámos uma vida difícil. Sentimo-nos sós sem a mãe e os pequenos. Mesmo agora, quando penso neles, parece-me ouvir o meu irmãozinho chamando «In-chan!» (mano grande) e a minha irmã «Ah-chan!» (mamã).
Podem imaginar que vida tão dura o pai e eu temos levado? E quantas pessoas foram ainda mais infelizes do que nós? Eu, que conheço os malefícios da bomba atómica, acredito que devemos fazer o possível para que não haja mais guerras.
Rezo para que toda a gente recorde o dia 6 de Agosto, de maneira que haja paz eterna.
Todas as vezes que eu lia as cartas, o meu irmãozinho perguntava: «In-chan (mano grande), quando voltamos para Hiroshima?» Fazia com tanta frequência esta pergunta que me feria os nervos, e por vezes, repreendia-o. Relembrando isto, compreendo que era uma coisa pouco razoável da minha parte e lamento-o agora. Ele desejava tanto ir para casa que o meu avô por fim cedeu e uma semana antes do lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima ele levou-o aos meus pais. Ao vê-lo partir, invejei-o. Agora, sinto pena de mim mesmo, pois era o irmão mais velho.
Depois disto, no dia 6 de Agosto, no momento em que iam começar as aulas e a campainha tocava para a entrada, um relâmpago e Bum!! ouviu-se um estrondo terrível. As janelas de vidro da escola estilhaçaram com violência e no céu para leste uma nuvem de fumo branco inflamou. Fiquei assustado e escondi-me no abrigo da escola. Momentos depois, como não ouvisse mais ruídos, saímos cuidadosamente de rastos para observar. Começou a dizer-se que fora atacado o aeródromo de Kamine.
Uma manhã bem cedo, quatro ou cinco dias depois, o meu avô arranjou lugar num camião e partiu para Hiroshima. A avó e eu tínhamos acabado de cear e ido para a cama quando ouvimos, já meio adormecidos, bater à porta. Quando a avó abriu o meu avô entrou. Segundo a sua história, Hiroshima estava completamente em ruínas. Quando foi a Senda, encontrou o meu pai apenas com uma beliscadura no braço, mas a mãe tinha o corpo todo queimado, bem como o meu irmão e a minha irmã; mas estes estavam já mortos.
Na manhã seguinte, a avó e eu fomos de autocarro a Kabe e dali partimos a pé para Yokogowa. Quando lá chegámos, não quis acreditar que o que os meus olhos viam fora Hiroshima. Mal conseguíamos perceber onde nos encontrávamos. Por fim, seguindo as linhas dos eléctricos chegámos a Senda. A casa estava totalmente destruída. Uma pessoa que vivera perto de nó aproximou-se e disse-nos onde se refugiara a mãe e dirigimo-nos para o parque de Yamanaka.
A mãe estava completamente prostrada. O seu cabelo caíra quase todo. Tinha o peito em chaga e de um buraco nas costas saiam e entravam vermes. O local encontrava-se cheio de moscas e mosquitos e um odor nauseabundo empestava tudo. Para onde quer que olhasse só via pessoas imóveis. A partir da noite em que chegámos, a mãe piorou e parecia que a víamos enfraquecer diante dos nossos olhos. Como durante toda a noite tivera dificuldade em respirar, fizemos tudo o que pudemos para a aliviar. Na manhã seguinte eu e a minha avó cozinhámos a açorda. Quando a levámos à mãezinha ela soltava o último suspiro. Quando pensámos que deixara de viver, ela respirou profundamente ainda uma vez e não voltou mais a respirar. Eram 9 horas da manhã de 19 de Agosto. No local do Hospital da Cruz Vermelha Japonesa, o odor dos corpos que cremavam era intenso. A dor demasiada fez-me parecer um estranho a mim mesmo, e a despeito da minha dor não consegui chorar. Era como se o meu irmãozinho tivesse vindo para Hiroshima de propósito para morrer. Por que não o retive uma semana mais? A minha pena é maior do que a posso suportar. O meu irmãozinho e a minha irmã já estavam ambos mortos antes de eu voltar.
Depois o meu pai e eu levámos uma vida difícil. Sentimo-nos sós sem a mãe e os pequenos. Mesmo agora, quando penso neles, parece-me ouvir o meu irmãozinho chamando «In-chan!» (mano grande) e a minha irmã «Ah-chan!» (mamã).
Podem imaginar que vida tão dura o pai e eu temos levado? E quantas pessoas foram ainda mais infelizes do que nós? Eu, que conheço os malefícios da bomba atómica, acredito que devemos fazer o possível para que não haja mais guerras.
Rezo para que toda a gente recorde o dia 6 de Agosto, de maneira que haja paz eterna.
7 comentários:
Júlia, desde já um aviso p/ k confirmes se foi inépcia minha ou há erro. Não consegui visualizar fotos algumas. Andei abrindo os diferentes itens k surgem mas nada. Verifica.
Fazes bem em lembrar. Costumava fazê-lo. Agora cada vez k olho o mundos, de olhos bem abertos, vejo os senhores do poder tão interessados em guerras, tantos focos disseminados de guerras por todo o lado e a denominada 2ª grande guerra que nunca cessou, tomou novas formas que não deixando de estar activa pela paz já não estou em condições de postar como tu o fizeste. Qnd menina e me perguntavam a idade, com muita ingenuidade, orgulho e alguma arrogância, dizia (p.exº): tenho 6 anos. Não gosto de guerras. só nasci depois da guerra acabar. Até ao dia k percebi k não acabara e deixei de o dizer com profunda mágoa.
Bjs
Luz e paz contigo
Realmente as fotos são impressionantes como são sempre que nos mostram a detruição leviana de seres humanos por outros.
Bjs
TD
Parece algo tão distante e subitamente acordaste em mim uma tristeza grande...
Sendo egoísta e pensando na crise em que estamos... por vezes lembro-me das guerras e penso q estamos num país em q ainda se respira alguma paz... e é isso que tb me ajuda a avançar...
Beijo
Uma vez fiz um documentário em coprodução com a BBC, em que o assunto aparecia, sendo que os textos eram da BBC. Sabes o que eles diziam? Que a bomba serviu para acabar com a guerra! É assim que se faz opinião. Creio que esta é a versão escolar nos EUA e, ao que parece, também na Inglaterra.
A despropósito: estou a publicar alguns posts no meu blogue sobre a guerra colonial mas abordando aspectos irónicos.
Abração (claro!).
Olá Júlia!
Foste visitar a meu blog e viste lá o teu amigo Jorge Castro.Por acaso sabes de quem é o blog onde deixaste o teu comentário?
Um beijo Lourdes
Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
Gostei deste teu artigo. É bom que se continue a recordar estes crimes contra a humanidade...
Um abraço,
José Gomes
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