domingo, janeiro 14, 2007

Poema da Maria Rita

Maria Rita
é portuguesa
Maria Rita
Tem 18 anos
Maria Rita
é mulher
Maria Rita tem
um namorado
Maria Rita
fez sexo com o
namorado
Maria Rita
engravidou
Maria Rita
é parva
Maria Rita
logo que disse ao
namorado este cavou
Maria Rita
procurou resolver a questão
Maria Rita
encontrou uma senhora amiga
que lhe emprestou dinheiro
para fazer um aborto

Schssss ali naquela mulher de
confiança

Schssss não digas a ninguém
se não podes ir presa tu e ela também

Maria Rita não disse a ninguém
mas disse à mãe, e disse à tia, e disse
à irmã, também elas, todas elas,
tinham feito abortos,

Schssss não digam a ninguém
è que o senhor polícia pode bater
à porta.

Ana Vicente

in Por Uma Vida de Escolhas, editado pelo
Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo SIM

18 comentários:

Titas disse...

E Maria Rita juntou o medo de ser presa ao seu desgosto pela decisão a que se viu obrigada. Mas esperavam-na ainda as condições humilhantes e os perigos para a saúde que as senhoras ricas desconheciam. Essas iam a países civilizados e humanistas. Em comum, apenas a mágoa por uma decisão difícil.

SIM, evidentemente! Escusado perguntar.

Anónimo disse...

Lutemos pela dignidade e pelo direito à vida.

A nossa resposta só pode ser o SIM no referendo.

wind disse...

Muito bom. E vai haver um referendo que não devia haver, já devia ser um direito adquirido!

Maria disse...

Faço minhas as palavras da Wind.
Beijinhos

Maria Carvalho disse...

Nem mais. Concordo com a Wind. Voto a favor numa questão que já devia estar mais que ultrapassada.Às vezes nem parece que estamos no século XXI!! Beijos, Júlia.

Teresa David disse...

Claro que vota tb SIM embora tenha conseguido nunca ter feito um aborto, mas nem todas têem a mesma sorte, e deverão ter o direito de escolha sem serem penalizadas por isso.
Bjs
TD

Manel do Montado disse...

E a Rita não conhece os anticoncepcionais? E o namorado não sabe o que é a “borrachinha”?
E que tal uma campanha pela educação sexual?
Tenho ideias próprias sobre isto, colho alguns argumentos a favor do sim e outros a favor do não.
Por isso, porque o que se está a tentar resolver não é a questão de fundo, mas sim um jogo de interesses políticos, vou calma e civilizadamente abster-me de sufragar qualquer um dos interesses em jogo.
Querem contar comigo?
Iniciem campanhas de educação sexual nas associações de estudantes das escolas, nas juntas de freguesia, nas associações de bairro, etc. Irei lá dá-las gratuitamente, aliás o que já faço com amigos e amigas dos meus filhos.
Passem bem…

Isabel Magalhães disse...

Antes de mais um pequeno preâmbulo:

Estou aqui a dar a minha opinião porque a Júlia me convidou por e-mail.

Eu SOU a FAVOR da VIDA! VOTO NÃO!

A pílula anticoncepcional tem mais de 40 anos de existência, os preservativos são vendidos nas 'maquinetas', há meios anticoncepcionais de distribuição gratuita em vários locais, a informação chega aos quatro cantos do país, e há ainda a pílula do dia seguinte - largamente usada (erradamente) como contraceptivo.
Depois de tudo isto só engravida quem quer!

A parte 'económica' (fuga aos impostos, e etc.) do assunto é para mim, e neste momento, apenas um mero detalhe.

O conceito esquerda/direita transcende-me. Conheço apoiantes do SIM e do NÃO em todos os partidos.

Por último, "Quem anda à chuva, molha-se!" e isso não pode - de forma alguma - dar-lhe o direito de matar o feto/embrião.

Os que têm filhos 'incómodos' - toxicodependentes, ladrões, agressores, violadores - também poderiam, em consciência, sentir-se no 'direito' de organizar uma petição pelo direito de os eliminar. Afinal trata-se de um 'MERO' detalhe que se prende com a idade de quem se abate!

Deixo-lhe um abraço.
Isabel Magalhães.

Noélia de Santa Rosa disse...

Querida Júlia
Este é um tema sempre polémico, porque a grande maioria prefere enfiar a cabeça na areia a encarar a realidade da vida.
A minha opinião acerca, já está formada há muito e há muito que já escrevi sobre este tema.
Mas republiquei o artigo para quem quiser ler e meditar sobre o que ali afirmo.
Se quiseres passa por lá.
Espero que já estejas bem melhor da tua saúde.
Beijinhos

augustoM disse...

E a camazinha? Onde ficou? Não é preciso se eu engravidar faço um aborto. Tudo tão simples como isto.
Como vai a saúde, espero que boa.
Um beijo. Augusto

augustoM disse...

Só para corrigir: em vez de camazinha deve ser camisinha.

Conceição Paulino disse...

pois é amiga, mas a hipocrisia e o $ são fortes e não querem saber.
mais carne para "canhão" ou menos, tanto lhes faz....
Se é mesmo para canhão....e claro k têm k procriar p/ k os canhões smp tenham alimento....
Bj e continuação da boa recuperação.

Anónimo disse...

Mas, que bom seria que pensássemos, ANTES de mais, na forma de elucidar ABERTAMENTE e sem quaisquer Tabús,VERGONHAS ou ACANHAMENTOS, os nossos filhos,Jú!

Eu quero, mais do que tudo, conseguir manter os olhos sempre bem abertos e tudo fazer para que o diálogo continue a ser muito franco e muito claro com as minhas filhas
Começa aqui em casa, acredita!
Saem todo o tipo de perguntas, sobretudo da mais novinha como é óbvio, mas dão-se todas as respostas.

Pergunta-me o que senti quando abortei (e foi espontâneo) ainda que a gravidez (aquela) não tenha sido planeada entre mim e o meu ex-marido.
Alívio?
Até que poderá ter sido, pois que já tinhamos duas filhas e a mais velha reagiu pessimamente quando lhe dissemos que estava grávida, nem calculas! Que não queria outro irmão! Que não queria!...
Mas abortar como eu abortei? Na casa de banho? A ouvir todos na sala a conversar (era um domingo e vieram visitar a doente, que era eu...) Não te vou dizer mais nada porque já percebeste o quanto me doeu e ainda dói)Acredita que nunca mais se esquece aquele momento, ai não, por tão violento! E garanto-te que Ninguém me convence do contrário!

Por isso, Júlia, dia 11 festejarei o aniversário da minha filha e isso é muito, mas muito mais importante! E o melhor presente que lhe posso dar é sabê-la elucidada!

Promovam-se campanhas, conversemos, mas que,quer seja pelo sim , quer seja pelo não, que não se tente influenciar ninguém, mas que se elucide!

Beijo, Jú e que estejas a recuperar bem, bem, Amiga!
Com muito carinho,
Cris

Júlia Coutinho disse...

Minha querida Cris,
Acho óptimo que mantenhas com as tuas filhas essa relação aberta e esclarecedora para que elas cresçam mulheres bem informadas e sem tabus.

Mas acho que devias pensar um bocadinho na grande maiora das familias portuguesas onde isso não acontece, infelizmente.

E o que se pretende, no proximo referendo, é colocar um pouco de justiça na situação legislativa e social que temos: dar a todas as mulheres que têm que abortar, até às 10 semanas, condições fisicas e psiquicas para o fazerem com segurança. Fazer com que esse acto deixe de ser um acto criminoso que leve para a cadeia as mulheres que forem denunciadas. Acabar com a clandestinidade e tudo o que de pernicioso ela traz: como o enriquecimento de alguns à conta disso mesmo, por exemplo...

Fechar os olhos a esta realidade, é igualmente criminoso.

A minha mãe morreu por um aborto clandestino, obviamente. Sem condições. Eu fiquei sem mãe aos 3 anos.

Continuam, ainda hoje, a morrer mulheres assim. Outras a serem presas e humilhadas.

Como tu própria dizes, abortar é horrível.
Nenhuma mulher aborta por ou com prazer.

Manter esta situação é pactuar com a clandestinidade, o medo e a injustiça. Porque a actual lei não resolveu o problema social do aborto.
Beijinhos, amiga !

PS - de alguma forma respondo igualmente aos amigos que aqui deixaram vozes discordantes

Jorge Castro (OrCa) disse...

Pois é, minha cara amiga, eu sou daqueles que acha que quem faz um filho, fá-lo por gosto. Faz porque o quer e não por acidente.

Um "filho acidental" é um erro. É um desleixo. É uma irresponsabilidade. É o que se quiser. Mas é, seguramente, uma grande dose de infelicidade para o filho.

Vejam-se esses tão pios pais que da escola têm a fundamental noção de que mais não é que um depósito dos rebentos...

Além do mais, votar SIM não obriga ninguém a assumir atitudes, ao contrário do NÃO que coarcta aos demais o livre-arbítrio.

Estou contigo e com a Wind. E também já "prantei" a minha escolha lá pela minha casa.

Beijos.

Anónimo disse...

Achava ter sido clara, Jú. Aquilo que penso e reafirmo é que as mentes devem ser abertas, esclarecidas, de uma vez por todas.
Vais convencer-me que o sim vai por cobro ao aborto clandestino?
Meu doce, quantos dos que dizem sim pensam "não".
Sabes porquê?
Porque um aborto escondido é lucrativo e enche o bolso de muita gente.
E em relação ao que li que "quem faz um filho, fá-lo por gosto" também pode evitá-lo, e ter todo o mesmo "gosto", verdade?
Aquilo que te digo é que seja um SIM consciente ou um Não assumido, mas que se assuma sem qualquer acanhamento!
Quanto às "abortadeiras", elas vão continuar a actuar, olha para o que te digo, Amiga.
E os "senhores doutores" esses médicos de m...(desculpa-me a irritação, mas é o que penso e falo porque sei bem!) que apoiam o Não, vao continuar a ganhar rios de dinheiro nos consultórios e nas suas clínicas privadas.
Quem dera que eu me engane, Jú!...

Anónimo disse...

"A minha mãe morreu por um aborto clandestino"

Obrigada, muito obrigada, Júlia, por este teu testemunho de coragem e lucidez. As lágrimas soltaram-se dos meus olhos.
Porque senti o que sentes ao fazer tal declaração.

Também a minha mãe abortou. Não morreu por sorte, mas aos trinta e poucos anos teve que ser sujeita a uma histerectomia. Também eu abortei. Saí da parteira e fui directamente para a Cuf...

Fui filha jovem informada aberta e inteligentemente em casa pelos meus pais (católicos praticantes), depois nas universidades que frequentei.

Sempre, mas sempre usei contraceptivos, excepto nos três momentos em que quis engravidar (tenho 3 filhos, 5 netos).

Não influencio ninguém sobre este tema tão melindroso.

Mas não admito que, sobre este tema, me julguem ou me passem um atestado de menoridade mental.

O meu SIM será pela vida, pela dignidade. Prendam os assassinos directos ou indirectos de um Saddam, mas não prendam uma mulher que teve que passar pela dolorosa, mas consciente decisão de interromper uma gravidez até às 10 semanas!

De Amor e de Terra disse...

Eu voto SIM não por ser a favor do aborto, mas porque conheço muitas histórias de dor, de sofrimento, de mutilação e algumas de fim verdadeiramente trágico, por causa das coisas feitas às escondidas, por mãos de quem não sabe nem se importa com as consequências.
É claro que concordo com a Educação Sexual a sério; com Alertas a sério para a juventude...
mas tudo é falível (infelizmente
tanta vez é falível) e só as mulheres é que pagam pelos actos;
os homens, esses podem sempre fugir com "o dito à seringa"...
E não me convencem que qualquer mulher, salvo raras excepções,faz um aborto de ânimo leve!
Maria Mamede