Passam hoje oito anos que a Lei consagrou a violência doméstica como um crime público. E eu quero lembrar aqui, a minha mãe - Maria Helena Coutinho -, vítima paradigmática da mais atroz violência, numa curtíssima vida.
- Nasceu de uma mãe-criança e foi estigmatizada por um "pai incógnito".
- Casou por obrigação porque "eu" vinha a caminho.
- Sofreu violências físicas e psicológicas de um marido que não quis.
- Morreu de um aborto clandestino.
Foi no dia 1 de Maio de 1952. Em Caldas da Rainha. Tinha 24 anos. Deixou três crianças, a mais velha com 4 anos, eu.
Jurei que a minha vida seria diferente. Que lutaria por ela e por todas as Mulheres que, como ela, foram imoladas neste longo caminho pela emancipação e instauração dos Direitos Humanos. Por todas as Mulheres que, com a aprovação da Lei da Violência Doméstica e, depois, com a Lei do Aborto começaram, finalmente, a ser justiçadas no nosso país.
Através da minha mãe aqui fica a minha homenagem às "Mulheres do Meu País" (como diria Maria Lamas) num momento em que se prepara um Congresso Feminista, 80 anos depois do primeiro, organizado em 1928 pelas corajosas Mulheres da I República.
2 comentários:
Bem lembrado!!! És de facto uma incansável guardiã da memória da História e neste caso, da História dos direitos da Mulheres. Talvez porque o seu Passado represente precisamente o oposto ... os "não direitos"!
Julinha, estás sempre na vanguarda da luta das Mulheres, especialmente das mais desprotegidas social e economicamente ... Viva as Mulheres, "viva nós"!
Essa luta tem que ser a luta de todos nós. Beijos.
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