quinta-feira, junho 24, 2010

Homenagem a Carlos Pato (2)

A FORÇA IGNORADA DAS COMPANHEIRAS QUE FICARAM NA SOMBRA, foi uma série de testemunhos recolhidos por Gina de Freitas para o jornal Diário de Lisboa logo após o 25 de Abril e que vieram a ser reunidos mais tarde, quase todos, em livro.

A 25 de Setembro de 1974 publicaram a entrevista com Maria Rodrigues Pato, a mãe de Carlos Pato, que iria fazer 74 anos em Outubro desse ano.
A jornalista traça-lhe o perfil: «tem o olhar apagado, a voz sumida, cansada, que de vez em quando se parte num soluço mal contido. Foram trinta anos de sofrimento, de luta e de sobressaltos.»
Transcrevemos:

«Isto começou tudo mais ou menos há 30 anos, minha senhora. O meu primeiro filho a ser preso foi o Carlos [Carlos Alberto Rodrigues Pato]. De uma vez esteve lá 90 dias e a seguir mais 13 meses e nunca foi julgado. O advogado dizia-me que não tinha matéria para ser julgado. Mas conservavam-no. Sofreu muito, muito, muito. Teve muitas torturas. A primeira vez que o vi contou-me que o tinham torturado muito, mas havia coisas que só me queria dizer quando saisse. Mas como nunca mais saíu... Morreu lá em Caxias, na Sala 7 do rés-do-chão, onde estavam mais 14 presos com ele. Foi das torturas que ele morreu. Torturas que incluiram mais de 130 horas de "estátua" (...) Aliás, a violência começou logo no momento em que tentaram pela primeira vez prender Carlos Pato: de madrugada, como é costume, invadiram a casa, entraram nos quartos e destaparam as pessoas que se encontravam na cama, incluindo a mulher grávida de cinco meses. O chefe da façanha foi o inspector Jorge Ferreira.»
 (...)
«O telegrama chegou a Vila Franca de Xira com a notícia da morte de Carlos Pato (...) Ela (mulher) coitadinha ficou doida e fomos as duas para Caxias. Quando lá chegámos o director disse: "não façam barulho, que eu não quero aqui barulho, senão as senhoras não entram". O meu filho já estava deitado, já o tinham vestido... (...) nós ficámos lá a tarde toda e de meia em meia hora vinha um dos presos que estava com ele, sentava-se um de cada lado e nós perguntavamos sempre o que tinha acontecido. Que tinha começado a queixar-se de um braço, depois de uma perna, que tinha também muita falta de ar e que eles punham-no junto da janela de grades, mas a sentinela da rua não o deixava lá estar. Bateram na porta, bateram para cima, mas ninguém acudia. Também os guardas não queriam barulho, porque não estava lá o senhor director que tinha vindo para Lisboa. Diz que estava tudo em alvoroço pois como podiam iam contando aos outros presos o que se passava.»
Carlos Pato acabou por morrer, em sofrimento atroz, sem qualquer assistência médica, pelas 6,30 horas do dia 26 de Junho de 1950.
Aqui fica o documento para Memória Futura.








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