quinta-feira, setembro 25, 2008

Mensagem do Pitum Keil do Amaral, filho de Maria Keil



Cara Amiga,

Desculpe se lhe não respondi mais depressa mas estamos no início do ano lectivo, e ando atarefado com a abertura das aulas.

Esta história da petição, abaixo assinado ou o que quer que seja acerca dos azulejos da minha Mãe para o Metropolitano de Lisboa, não tem jeito nenhum.

Fiz o possível para que ela não tomasse conhecimento do que se ia passando, mas agora já são desconhecidos a telefonar-lhe directamente, pedindo para também assinar !!

Ela ficou muito incomodada, claro , pois trata-se de factos passados há quase vinte anos, e que ficaram esclarecidos entre ela e a Administração do Metro.

É natural que ela tenha ficado magoada e ressentida, mas a remoção dos azulejos não teve motivos estéticos, nem foi vandalismo, mas sim a necessidade de ampliar as estações. É evidente que a Administração da época não foi correcta ao agir sem uma prévia explicação.

Mas isto, como disse, foi há quase vinte anos, e a minha Mãe continuou em boa relação com o Metro, que lhe encomendou uma nova estação – agora devidamente remunerada (enquanto as outras 19, por mútuo acordo, não foram pagas pelo Metro, recebendo minha Mãe, apenas, uma percentagem modesta sobre os azulejos aplicados, paga pela Fábrica que os fez).

Era impensável repor os azulejos, pois as superfícies onde antes estiveram ou já não existem ou estão completamente alteradas. Não tinha cabimento.

Felizmente, tudo o que minha Mãe fez sobre azulejos, para o Metro e muito mais, está documentado, e guardado no Museu do Azulejo em Lisboa.

Seria bem mais interessante que se falasse no papel que Maria Keil e o seu marido, o Arquitecto Francisco Keil do Amaral, tiveram na reabilitação e modernização do nosso azulejo tradicional aplicado na construção, abrindo caminho para as intervenções de muitos outros artistas, e para a difusão desta forma de Arte por esse mundo fora, desde o Japão até não sei onde – embelezando várias estações de metropolitano e não só.

O que a Júlia escreveu no seu blog está muito bem. A volta que deram ao assunto é que não faz sentido.

Retenha-se a necessidade de legislação e de prática na defesa dos direitos de autor das obras de arte públicas, muitas vezes abusadas e destruídas. – sim senhor .

Mas quanto à Maria Keil, no final de uma vida longa de trabalho, merece que a não envolvam em polémicas que não desencadeou, nem vêm a propósito.


Um abraço do Pitum

10 comentários:

João Videira Santos disse...

Se comentei e acompanhei de perto o assunto, registo, agora, que fiquei, perfeitamente, elucidado. Abraço Julia

Carlos A. Augusto disse...

Como promotor da Petição devo dizer que li e compreendo as razões apresentadas pelo arquitecto Keil do Amaral.
Tenho pena que ele não tenha tido uma palavra para as cerca de 4.000 pessoas que se manifestaram pela obra da sua mãe e que reagiram perante este acto de destruição (não está aqui em causa se foi há vinte anos ou vinte minutos, só o soubemos agora...) como se se tratasse de algo que lhes foi feito a elas.
O nosso móbil e o "jeito" desta petição era (é) esse...

Anónimo disse...

Cara Júlia:
Fica tudo dito. E bem dito.

Caro Carlos Augusto:
Sem querer soprar mais na fogueira, o argumento das "4 mil pessoas que se manifetaram" não me parece o melhor. Convenhamos que levar quase 20 anos para tomar conhecimento do facto que esteve na origem de tudo isto revela alguma desatenção. A não ser que os manifestantes estejam todos na faixa etária pós-adolescente. SE assim for, aceitem os meus parabéns. Caso contrário, parece-me que houve por aí um qualquer défice de RAM.

Um abraço
e bora lá a combater pelo que vale mesmo a pena.

Jorge Castro (OrCa) disse...

Há, em tudo isto, também, um pouco da história de Pedro e do lobo: o cidadão português anda tão farto de trampolinices e atentados à «res publica» que tende, ao mínimo alerta, a reagir - aqueles que ainda sentem... - porventura desproporcionadamente.

Estou em crer, ainda, que a preocupação em sair em defesa de Maria Keil e do nosso património - desajeitada, talvez, extemporânea, decerto -, sublinha por outro lado um carinho muito grande pela autora e um raro interesse pela tal «res publica» que é de realçar.

Prossigamos, entretanto, na campanha de esclarecimento e, outra vez, parabéns, Júlia, pela tua coragem e frontalidade.

Conceição Paulino disse...

ia na linha de Pedro e do Lobo, mas como o rca já acima a referiu assimfica, e bem.
Também um "lembrete" - não lerem sem atenção _ caso presente; tentar averiguar a veracidade _ não nesta situação k foi pública e aqui muito bem exposta pela Júlia _ de situações deliberadamente falseadas por quem brinca com assuntos sérios (maioria dos apelos urgentes _ façam como eu, peguem no telefone e confirmem. Em mais de 300 só duas situações provaram ser verdadeiras _ OU que acabam sendo deturpados - os asuntos - no percurso.
Bjs Júlia
Luz e paz em serenidade contigo e bom f.s.

Lúcia disse...

Júlia
Ainal decidi fazer um pequeno post sobre o assunto, remetendo os leitores para este blog e para o do Viriato Teles.
Beijinhos

Carlos A. Augusto disse...

Viriato Teles:
O tom jocoso que usa no seu comentário é _mesmo_ soprar na fogueira...

Anónimo disse...

Caro Carlos:
Peço desculpa se o meu tom lhe pareceu jocoso, a intenção era tudo menos ofensiva. Por (de)formação pessoal e profissional, tenho alguma dificuldade em resistir a uma piada. E estava apenas a tentar desanuviar, com um toque de humor, o ar "carregado" que esta pequena polémica assumiu - ainda por cima uma querela travada entre pessoas que estão de acordo relativamente ao cerne da questão, ou seja: a defesa do património e, na circunstância, da obra de MK.
Por mim, o caso está mais do que encerrado.
Um abraço

Paula Raposo disse...

Esclarecida. Beijos.

Violeta disse...

Júlia
muito obrigada por este esclarcimento. é bom ouvirmos outras opiniões e repormos a verdade.
Vou fazer uma adenda no post com um link para o seu blogue
Até breve