domingo, julho 29, 2007
A todos que passem por aqui
quarta-feira, julho 04, 2007
Venham ouvir o Pedro

terça-feira, junho 19, 2007
No dia dos teus anos ... a minha homenagem
Seja minha a tua força, irmão
seja meu o teu braço, camarada
Sejam estes muros não um paredão
sejam uma ponte ou mesmo uma estrada.
Seja nela meu o teu anseio, irmão
seja minha a luta que na tua terra travas
seja ela o fruto das coisas que amavas.
Sejam essas coisas, as mesmas, irmão
sejam as que amo aqui nesta cela
seja para sempre a minha na tua mão
seja para todos uma vida bela
seja nela o trigo com a sua cor dourada
sejam as papoilas vermelhas de querer
seja sempre o dia que sucede à madrugada
seja outro o sentido da palavra morrer.
Sejam os mortos aqui ao nosso lado
sejam os seus também os nossos passos
seja em luta o ódio acumulado
sejam retesados nossos membros lassos.
Sejam as colinas de vontade erguidas
seja a sua força a que do amado vem
sejam nossas as tuas palavras queridas
seja minha a tua vontade também.
E não há muros, bombas ou insultos
que detenham as árvores ao nascer da terra
nem façam brotar flores de pensamentos estultos
nem parar o sol. E não será a guerra
com que os lobos sonham em noites de orgia
que impedirão que nasçam.
Das auroras por nascer
das estruturas por erguer
dos caminhos por andar
das flores por brotar
estendem-se as mãos do futuro
que envolvem teu corpo de bandeira.
Maria Alda Nogueira
Prisão de Caxias, 1963
segunda-feira, junho 18, 2007
As Incongruências do Vaticano
sexta-feira, junho 08, 2007
Pessoas magras podem ser gordas por dentro
sexta-feira, junho 01, 2007
No Aljube
mas as nascentes correm pelos teus cabelos
Tantas coisas no silêncio:
duas mãos que se apertam
com a noite em choro no asfalto
um cigarro que arde na penumbra
dum rosto um rolo preto
borrado de tinta preta
que rola torna a rolar.
- Terça-feira ninguém pega nos teares!
Nunca te sentiste tão perto dos homens
nem tanto amaste a vida sem temer a morte.
O respirar da cidade
faz vibrar as paredes do teu poço.
Mas em lugar de entranhas
não sentes amendoeiras floridas?
Tua mãe
leva-te de novo à escola pela mão...
A coragem-tesouro da Ilha Maravilhosa onde estava?
Foi a vida que o foi juntando
e o enterrou nas praias do Mar Mediterrâneo
que há dentro de cada um de nós.
António Borges Coelho, in Fortaleza, seara nova, 1974
quinta-feira, maio 31, 2007
Um Decreto-Lei vergonhoso
domingo, maio 27, 2007
Foi o Salazarismo um Fascismo? por Nuno Teotonio Pereira

À medida que se distancia no tempo tem a ditadura de Salazar sido objecto de cada vez mais estudos e depoimentos, ao mesmo tempo que o período que lhe corresponde, generalizadamente designado por fascismo a seguir ao 25 de Abril, é crescentemente apelidado mais inocuamente de Estado Novo, epíteto com que o ditador o baptizara. E muitos dos tais estudos e depoimentos, aparecidos em colóquios, biografias ou artigos de jornal, tendem a classificar o salazarismo como um regime autoritário de direita, distinguindo-o claramente do fascismo.
Em minha opinião estas últimas análises relevam mais da personalidade do ditador do que propriamente das características do regime, onde existiram abundantes manifestações de tipo fascista, suscitadas por uma ala de direita radical com grande influência no aparelho de Estado e benevolamente tolerada por Salazar. Este, na verdade, nunca envergou uma farda das milícias militarizadas e apenas raramente, e porventura a contragosto, fez a saudação fascista. Foram-no, sim, e com influência real, a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa, criadas no apogeu dos fascismos europeus, como expressão directa daquela ala radical, que apelidava o ditador de Chefe. Isto a exemplo de outros epítetos que então grassavam pela Europa: fuehrer, duce, caudilho - sintomaticamente paralelos às designações que ficaram dadas mais tarde a outros líderes de sinal contrário, como “grande timoneiro” (Mau-Tse-Tung) ou “conducator” (Causescu).
Na verdade, ao lado destas realidades, houve também entre nós grandes manifestações de massas, que enchiam o Terreiro do Paço à custa de comboios especiais que vinham de todo o país, e desfiles aparatosos da Mocidade Portuguesa e da Legião Avenida abaixo. E não se pode esquecer nesta enumeração a toda poderosa polícia política, que foi conhecendo vários nomes, e cujos chefes despachavam directamente com o Presidente do Conselho. Não eram todas estas manifestações típicas de um regime fascista?
Às considerações que têm sido aduzidas pretendo juntar agora outras que à Arquitectura dizem respeito, e que julgo serem uma prova a acrescentar no sentido de que o regime salazarista, se não foi um fascismo clássico, teve, pelo menos numa dada fase, uma fortíssima componente fascista que de forma alguma o pode permitir classificar como autoritário de direita. É que a Arquitectura foi fortemente manipulada, por forma a fazer dela também um instrumento de inculcação ideológica, o que não se verificou por exemplo noutros regimes da época, esses efectivamente autoritários, como foram os de Horthy na Hungria e de Pilsudski na Polónia. Nestes países o curso da Arquitectura poude seguir livremente as correntes mundiais lideradas pelo chamado Movimento Moderno. São baseadas estas considerações em duas comunicações que apresentei em tempos, a primeira em colaboração com o arquitecto José Manuel Fernandes ao Colóquio sobre o Fascismo em 1980 (A Regra do Jogo) e a segunda a outro já chamado significativamente sobre o Estado Novo alguns anos mais tarde (editorial Fragmentos, 1987).
O que sucedeu então com a Arquitectura? Curiosamente, nos anos a seguir ao golpe militar de 28 de Maio de 26, e mesmo logo após a Constituição de 33, a corrente modernista afirmou-se em Portugal com uma enorme pujança. Cottinelli Telmo (estação do Sul e Sueste), Cristino da Silva (cinema Capitólio e Liceu de Beja), Carlos Ramos (Instituto de Oncologia e Liceu de Coimbra), Rogério de Azevedo (Garagem do Comércio do Porto), Pardal Monteiro (Instituto Superior Técnico e Estatística), Cassiano Branco (Éden-Teatro e prédios em Lisboa) e Jorge Segurado (Casa da Moeda e Liceu Filipa de Lencastre), fizeram parte ds vanguardas europeias da Arquitectura, já sob o impulso dado às Obras Públicas por Salazar e Duarte Pacheco. Pode dizer-se que durante este período o novo regime teve uma atitude de indiferença ou de neutralidade em relação à Arquitectura, não procurando interferir num domínio que pertencia naturalmente aos seus criadores.
Entretanto, para os finais da década de 30, com a consolidação do regime e o ascenso das correntes radicais animadas pelos fascismos europeus, começaram a ouvir-se vozes propugnando uma arquitectura “nacional”, por oposição à que era designada por internacional ou esmo de inspiração comunista. Raul Lino, com a teorização feita à “casa portuguesa” e António Ferro, com a sua política cultural nacionalista, forneceram a base ideológica para a concretização desta ideia. É já neste quadro que em 1938 surge o projecto da Praça do Areeiro, inspirada em motivos setecentistas e de monumentalidade nazista, da autoria de Cristino da Silva, um dos homens da vanguarda modernista. Com raras excepções, todos os outros lhe seguiram na peugada. E não deixa assim de espantar que os arquitectos modernos da primeira geração tenham abdicado dos seus ideais de vanguarda, levados por uma atitude voluntária de seguidismo em relação às directivas oficiais. A Arquitectura Moderna em Portugal aparecia decapitada por renúncia os seus próprios protagonistas.
Abre-se então um período em que os dogmas do portuguesismo na Arquitectura e de uma monumentalidade retórica são assumidos autoritariamente pelo regime Arquitectos mais conscientes, como Adelino Nunes (edifício dos CTT na Praça Dom Luís I) ou Paulo Cunha (estação ferroviária de Cascais) vêem reprovados os seus projectos modernistas e são obrigados a refazê-los de acordo com os cânones oficiais. A arquitectura dita portuguesa passa a ser imposta nas encomendas do Estado. Tal estado de coisas tinha paralelo na época com as práticas do nazismo alemã, do fascismo italiano (este apesar de tudo mais tolerante), do franquismo e do estalinismo. Foi uma década negra para a Arquitectura em Portugal, em que o pastiche era a norma. E não deixa de ser curioso que dessas pretensas arquitecturas nacionais tivessem saído produtos formalmente muito semelhantes, formando portanto, à revelia do que apregoavam os seus mentores, uma verdadeira internacional.
É assim que aparecem por todo o País palácios de Justiça, edifícios dos CTT, liceus, escolas primaras (o célebre Plano dos Centenários) e outros edifícios públicos ostentando condimentos em diversas combinações, que iam desde elementos do barroco joanino, aos telhados com beirados múltiplos e a uma monumentalidade retórica de uma clara inspiração nazi, e portanto estrangeira.
Nem os prédios de rendimento que se construíram em Lisboa escapam a isto, como os blocos de edifícios das avenidas Sidónio Pais e António Augusto de Aguiar, com os seus andares “nobre” guarnecidos de varandas, as suas cimalhas e pilastras de cantaria e os torreões ponteagudos. É que a Câmara Municipal, querendo dar o exemplo em lotes que vendia com o projecto feito, recomendava aos arquitectos que se inspirassem nos modelos do edifício da EPAL na Avenida, da Casa das Varandas (ao lado da Casa dos Bicos) e do Palácio Ludovice, ao cimo do elevador da Glória. São construções paradigmáticas deste período a tribuna do Estádio Nacional e os prédios em frente do Avenida Palace em Lisboa, todos de clara inspiração germânica dos anos 30. A cidade do Porto, onde na encomenda de projectos predominava a iniciativa privada, e mais longe do Terreiro do Paço, escapou em parte a esta onda. Aí, com maior ou menor dificuldade, a Arquitectura Moderna poude seguir o seu curso
Entretanto, com a derrota do nazi-fascismo, o regime de Salazar ia sendo obrigado fazer concessões. É assim que no I Congresso Nacional de Arquitectura em 1948, liderado por correntes oposicionistas em que predominava uma nova fornada de jovens arquitectos, estas imposições são abertamente denunciadas e adoptadas conclusões no sentido de a elas os projectistas não se dobrarem. O Congresso fora organizado pelo Governo, juntamente com uma aparatosa Exposição de Obras Públicas, para enaltecer os benefícios do regime. O tiro saiu-lhe pela culatra. É a partir deste momento que correspondeu a um autêntico ponto de viragem, que a censura oficial começa a enfraquecer, sem que tenha deixado de vigorar durante ainda bastantes anos em alguns organismos estatais. São as entidades dotadas de alguma autonomia administrativa, como as Caixas de Previdência, as empresas hidro-eléctricas, ou as Câmaras Municipais, que vão criar condições para que a Arquitectura Moderna retome o seu curso em Portugal, agora com o protagonismo de arquitectos mais jovens, em que sobressaem Keil do Amaral em Lisboa e Januário Godinho no Porto.
Hoje, passado que vai meio século,[1] pode e deve fazer-se uma reavaliação do que foi a Arquitectura do Estado Novo, ressaltando daí alguns aspectos positivos, como a solidez dos processos construtivos, com largo emprego de alvenarias de pedra e cantarias, materiais que resistem bem ao tempo, por oposição ao betão armado, bandeira dos modernistas, que se julgava então perene e que hoje apresenta com frequência preocupantes patologias de envelhecimento. Mas do que não pode haver dúvidas é de que a instrumentalização da Arquitectura, através de métodos administrativos limitando a liberdade de expressão dos projectistas, revela uma faceta claramente totalitária, prova de que existiu uma componente fascista hegemónica, pelo menos num largo período, no regime de Salazar.
[1] - De notar que este artigo foi publicado no jornal Público em 18.7.1993
sexta-feira, maio 25, 2007
Há 50 Anos: Fuga Audaciosa do Aljube [1]
Há 50 anos, precisamente na noite de 25 para 26 de Maio de 1957, tinha lugar uma fuga da cadeia do Aljube de Lisboa protagonizada por Carlos Brito, Rolando Verdial e Américo de Sousa todos dirigentes do Partido Comunista Português, sendo o último membro destacado do Comité Central.
Os antecedentes
1ª - passar a grade para o algeroz;
Feito isto, começámos. O primeiro a sair foi o Américo. Eu estava especialmente ansioso. Depois chegou a minha vez. Deitei-me de costas na mesa que tínhamos encostado à janela, para facilitar a saída. Fiquei então absolutamente calmo e totalmente concentrado em cada gesto. Passei os braços e depois a cabeça pelo espaço aberto nas grades. Trepei por estas até ficar totalmente de fora. Desci para o algeroz, reparei de relance na respeitável altura a que me encontrava e lá em baixo, ao fundo, no guarda da GNR. Caminhei de lado, inclinado para a frente e apoiado na parede, que era recoberta de telhas como nas águas-furtadas. Fui juntar-me ao Américo e ajudá-lo a amarrar a corda de lençóis numa janela que havia mais à frente, numa sala que nos servia de refeitório. Feita esta operação, continuámos, no mesmo jeito de caminhar, até à extremidade do algeroz que contornava a frontaria do edifício e acabava um meio metro depois, na parede lateral. Tinha uma sensação de completo desamparo, como se boiasse no ar sobre uma Lisboa nocturna, magnífica nas suas pistas iluminadas, até à mancha negra do rio. Lançámos a corda, que eu fixei no baixo parapeito do algeroz enquanto o meu companheiro da frente a descia a pulso. A corda era curta. A distância excedia os seis metros calculados. O Américo teve dificuldade em firmar os pés no telhado. Fez-se barulho. Entretanto, o terceiro da fuga chegou junto de mim. Agora fixava ele a corda, enquanto eu descia a pulso. Em baixo o Américo amparou-me, o que ambos fizemos a seguir ao Verdial, tornando a chegada ao telhado mais suave.
Atravessámos o primeiro edifício, procurando a cumeeira do telhado onde as telhas ofereciam maior consistência. Passámos para o segundo edifício. O desnível ainda era grande mas não foi preciso corda. Avançámos até ao beiral. Estávamos sobre o andar devoluto. Sabíamos que era possível saltar para uma varanda e sabíamos que nesta alguém tinha deixado uma janela aberta para nos dar passagem. Tinha sido a camarada Deolinda Franco [8], que visitara a casa na véspera, como se a quisesse alugar, e que, além disso, desempenhou um importante papel em todo o apoio exterior à fuga. Saltámos para a varanda com alguma dificuldade e algum ruído que ecoou pelas muralhas marmóreas da Sé.
A janela estava realmente aberta, entrámos na casa, fomos à porta da escada, puxámos os trincos, podíamos sair. Foi, então, o momento de calçarmos os sapatos e vestir os casacos que trazíamos amarrados à cintura e também de compor o cabelo. Depois descemos as escadas como quaisquer cidadãos regressados de uma paródia nocturna. Chegámos à porta da rua que estava a uma distância de cinquenta metros da sentinela da Guarda Republicana de serviço à entrada do Aljube. O guarda fazia um pequeno passeio, para lá e para cá da porta da prisão.
Aproveitámos o trajecto em que ia de costas para nos esgueirarmos até à esquina que era próxima, onde está hoje a Tasca da Sé. Depois caminhámos rápido. Seguimos uma rua onde devia estar um carro à nossa espera. Mas não estava. Foi o maior contratempo de todo o plano. [9]
Para grandes males grandes remédios, fizemos um galope até ao Largo da Graça onde apanhámos um táxi. Em breve estávamos a salvo.[10]
[2] - Carlos Brito, Tempo de Subversão, páginas vividas da resistência, Editorial Avante, 1998, pp.45-55
[3] - As mensagens codificadas eram passadas em papel de mortalha para fumar bem dissimuladas na roupa suja, para o exterior e, de forma inversa, na roupa lavada.
[4] - Como prenda de aniversário, Américo de Sousa recebeu uma caixa com um par de sapatos novos. Nestes, disfarçada na sola (feita propositadamente) encontrava-se o material necessário.
[5] - Era o caso de Blanqui Teixeira que assim ficou impossibilitado de fugir
[6] - Américo de Sousa viria a falecer em Março de 1993
[7] -Rolando Verdial chegou a ter tarefas de responsabilidade partidária, mas mais tarde veio a trair na polícia. Morreu antes de 25 de Abril de 1974
[8] - Deolinda Franco era casada na altura com Carlos Brito.
[9] - O automóvel falhou por uma troca de datas resultante da cifra em que foi indicada.
[10] - Refugiaram-se na casa de Arnaldo Aboim, na zona da Escola Politécnica onde ao fim de dois dias Carlos Brito e Américo de Sousa, já disfarçados, passaram para uma outra casa que era então um ponto de apoio da Direcção de Lisboa do PCP, à Calçada dos Barbadinhos.
quarta-feira, maio 16, 2007
Cidadãos por Lisboa

Helena Roseta à Câmara Municipal de Lisboa!
Urgência na recolha das assinaturas
As eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa foram marcadas para o dia 1 de Julho proximo, o que significa que o prazo de recolha de assinaturas tem de ser antecipado.
terça-feira, maio 01, 2007
Meu irmão de Maio
sexta-feira, abril 27, 2007
Amor Militante
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primeiro 1º de Maio em Liberdade, 1974 |
Amor Militante
Palavra nua. Força. Forca. Vento.
Anel de lava. Passo. Início. Meta.
Retrato e acto. Cacto. Água. Poço.
Laço que eu faço. Braço que arremessa.
Nome de caça. Casa. Sangue e osso.
Amor que sempre acaba. E recomeça.
Amor que sempre faço. Porque é isso
que faz falta fazer. Amor amante.
Amor que é um compasso. Um compromisso.
Amor que é toda a vida ou um instante
em que se vive e morre de olhar fixo
e coração ao alto. Militante.
Joaquim Pessoa
domingo, abril 22, 2007
Festejemos 33 anos de Liberdade - II
terça-feira, abril 17, 2007
Festejemos 33 anos de Liberdade

terça-feira, abril 10, 2007
Ontem terias feito 65 anos ...
ADRIANO
Não era só a voz o som a oitava
que ele queria sempre mais acima
nem sequer a palavra que nos dava
restituída ao tom de cada rima.
Era a tristeza dentro da alegria
era um fundo de festa na amargura
e a quase insuportável nostalgia
que trazia por dentro da ternura.
O corpo grande e a alma de menino
trazia no olhar aquele assombro
de quem queria caber e não cabia.
Os pés fora do berço e do destino
alguém o viu partir de viola ao ombro.
Era Outubro em Avintes. E chovia.
(Manuel Alegre)
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
Há 20 anos que partiste
«Semeio palavras na música. Não tenho pretensões de dar a estas minhas deambulações pela música qualquer outro rótulo. Faço apenas canções. A canção insere-se sempre dentro de um processo. A sua eficácia depende do processo em que se insere. A sua importância depende da vastidão desse processo».
«Quando começamos a procurar alibis para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado»
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Eu Voto SIM
(…)
“Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez. Eis uma recapitualação das minhas razões.
1ª O que está em causa no referendo é decidir se o aborto nessas condições deve deixar de ser crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos (art. 140.º do Código Penal). Por isso, é francamente enganador chamar ao referendo o “referendo do aborto” ou “sobre o aborto”, como muita gente diz. De facto, não se trata de saber a posição de cada um sobre o aborto (suponho que ninguém aplaude o aborto), mas sim de decidir se a mulher que não se conforma com uma gravidez indesejada, e resolve interrompê-la, deve ou não ser perseguida e julgada e punida com pena de prisão”
segunda-feira, janeiro 22, 2007
Quem votar SIM fica sem funeral religioso ...
quarta-feira, janeiro 17, 2007
O Crime de Amar de Mais

É a «justiça» que temos e os juízes (alguns juízes) que temos. Um homem foi ontem condenado em Torres Novas a seis anos de prisão por se recusar a entregar a um desconhecido, o pai biológico, uma menina de cinco anos de quem, abandonada pela mãe, esquecida pelo pai, ele e sua mulher cuidam desde os três meses de idade.
O pai biológico nunca quis saber da gravidez da mulher com quem tinha tido o que, entre risinhos, chama de «caso casual». Só viu a bebé duas vezes, de passagem, uma quando foi chamado a fazer testes de ADN, outra dois anos depois.
Agora, em vésperas de a criança fazer cinco anos, decidiu reclamá-la. E o tribunal, pura e simplesmente, mandou que ela lhe fosse entregue, apesar de os psicólogos dizerem que arrancá-la àqueles que ela considera seus pais e entregá-la a um desconhecido será «dilacerante».
Para evitar à filha adoptiva (o processo de adopção estava em curso) a dilacerante separação, Luis recusa-se a revelar o seu paradeiro. Resultado: seis anos de prisão.
Porque os juízes (alguns deles) já não fazem «justiça», são meros burocratas da lei.
E a lei de tais juízes tanto dá para condenar a uma multa de 720 euros um polícia que matou um homem a tiro como para mandar seis anos para a cadeia quem, como o Luís, comete o crime de amar de mais.
(Manuel António Pina, Jornal de Notícias de 17.01.2007)
domingo, janeiro 14, 2007
Poema da Maria Rita
é portuguesa
Maria Rita
Tem 18 anos
Maria Rita
é mulher
Maria Rita tem
um namorado
Maria Rita
fez sexo com o
namorado
Maria Rita
engravidou
Maria Rita
é parva
Maria Rita
logo que disse ao
namorado este cavou
Maria Rita
procurou resolver a questão
Maria Rita
encontrou uma senhora amiga
que lhe emprestou dinheiro
para fazer um aborto
Schssss ali naquela mulher de
confiança
Schssss não digas a ninguém
se não podes ir presa tu e ela também
Maria Rita não disse a ninguém
mas disse à mãe, e disse à tia, e disse
à irmã, também elas, todas elas,
tinham feito abortos,
Schssss não digam a ninguém
è que o senhor polícia pode bater
à porta.
Ana Vicente
in Por Uma Vida de Escolhas, editado pelo
Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo SIM
quinta-feira, janeiro 11, 2007
Amadeu de Souza-Cardoso
terça-feira, janeiro 09, 2007
No começo de 2007
Lisboa tem suas barcas
agora lavradas de armas
Lisboa tem barcas novas
agora lavradas de homens
Barcas novas levam guerra
As armas não lavram terra
São de guerra as barcas novas
ao mar deitadas com homens
Barcas novas são mandadas
sobre o mar com suas armas
Não lavram terra com elas
Os homens que levam guerra
Nelas mandam meter
os homens com sua guerra
Ao mar mandaram as barcas
novas lavradas de armas
Em Lisboa sobre o mar
armas novas são mandadas
(Fiama Hasse Pais Brandão)