Por vezes, a sorte dos artistas está nas mãos do acaso. Quando se é actor, uma boa parte das oportunidades de trabalho resulta de factores que escapam ao nosso controle estrito. É aquilo a que chamamos esperar que o telefone toque. O telefone já tocou algumas vezes, na minha vida profissional, para desafios inesperados e compensadores: inesperados porque ninguém antecipa ser realmente chamado para um papel que deseje; compensadores porque os desafios valeram sempre a pena. Com estas eleições para a Câmara de Lisboa, a coisa passou-se comigo de modo semelhante e ao mesmo tempo diverso: sem filiação política, tenho estado afastado de campanhas e envolvimentos cívicos na vida pública em geral. Mas a dado passo as perspectivas de entendimento ou falta dele quanto ao futuro da edilidade começaram a inquietar-me. E cheguei a uma conclusão clara: para mim, havia todas as razões para que António Costa continuasse a ser o nosso Presidente, e nenhuma razão para que deixasse de o ser. E desejava partilhar esta convicção profunda com o maior número possível de pessoas. Mas como poderia desempenhar eu um papel nesse processo? O telefone tocou, dias depois, Era alguém a desafiar-me para apoiar a recandidatura de António Costa à C.M.L. Por uma vez, o papel que queria poder desempenhar, como cidadão, veio parar às minhas mãos. Abraço este papel e esta oportunidade com ambas as mãos. Não é (felizmente!) um papel de protagonista: antes integro o grande coro dos cidadãos que, como os actores dos antigos coros do teatro, buscam no debate a voz comum que lhes permita realizar a grande convergência para poder interpretar, com universalidade, o espírito da cidade.
André Gago
Actor / Encenador
1 comentário:
Enviar um comentário