quarta-feira, outubro 07, 2009

Lidia Jorge: voto António Costa

LISBOA PARA ANTÓNIO COSTA

SOBRE VISÕES

Agora dizem que António Costa não é um visionário. Dizem que não sabe imaginar um espelho de águas profundas para o Terreiro do Paço, nem consegue projectar um funicular que una os cumes das colinas de Lisboa, como já foi sonho de alguns há mais de um século atrás. Dizem que tem problemas com a perfuração da cidade, que não estima a engenharia dos túneis, que não é capaz de pensar numa fila de torres biónicas a elevarem-se à beira do Tejo, como estão a pensar fazer no Dubai. Para além de dizerem que não é capaz de convencer os lisboetas a deixarem o carro em casa, não consegue encontrar o engenheiro mecânico certo para desenhar as bicicletas e os segawys adaptadas à morfologia do sobe-desce desta cidade, nem os pára-ventos ideais para fazer aplacar a ventania atlântica que nos impede a utilização de esplanadas. Dizem que ainda não foi capaz de imaginar uma Feira de Moda para animar o comércio da Avenida de Roma, nem sequer um Parque Lúdico de dimensão gigante, na zona de Algés. Etc, etc, dizem que António Costa não passa de um programador. Um pagador de contas. Pois parece que em vez dessas visões se propõe, sobretudo, tornar a cidade mais fluida, mais limpa, mais acolhedora, mais divertida, mais cosmopolita, mais amável, mais segura para os velhos que são muitos, e mais confortável para as crianças, que também começam a ser mais, e a quem falta escolas, creches, espaços de brincar ao mesmo tempo abertos e guardados. Isto é, propõe um confronto com a realidade, sem a aceitar mas sem a fazer explodir. Não é mau. Eu prefiro este programador.

Tanto prefiro que até lhe vou lembrar aquele pedaço de poema do René Char que fala da sabedoria que se deve colocar a meio da contenda da vida para proporcionar equilíbrio entre os que não sonham nada e os que não fazem senão sonhar. Reproduzo as suas palavras que dizem, de forma lapidar aquilo que é preciso.

É preciso:

Fazer sonhar longamente aqueles
que não costumam ter sonhos
e fazer mergulhar na actualidade
aqueles em cujo espírito prevalecem
os jogos perdidos do sono.

Posto isto, resta-me desejar a António Costa que não nos defraude no sentido da medida e do equilíbrio, que não deixe a mão da sucata minar demasiado os negócios do futuro estado da cidade, que cumpra o programa de harmonia que propõe, e que possa terminar o seu mandato, deixando Lisboa melhor e o seu nome honrado. Para que tenha coragem e alegria, este é o abraço que lhe dou.


Lidia Jorge
Escritora

1 comentário:

stº antónio ás costas disse...

Outra para esta senhora escritora mas de assento tipo pasteleira. e de preferência com visão para a praça do município.